quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

O jogo do quem é quem.

Fazendo de ontem passado, nada mais há a acrescentar à velha vida.
Bons observadores focam-se no presente e imaginam o futuro, deixando o que lá vai e abrindo portas para o que ainda está para vir.
Deixemo-nos de contas inacabadas e teoremas nunca resolvidos, hoje viramos mais uma página.
Nova gente, novo ano, novas personalidades. Todos são diferentes, alguns desconhecidos por prazer.

Quem és tu, que me queres dizer?
O que vejo de ti é pouco para poder responder.
Quando apareces, o que desejas?
Quero apenas que saibas que todo o mundo se rege pelos seus desejos.
Como te pareces diante do espelho?
Espero que o espelho te diga exactamente aquilo que és.

Enquanto se joga o sangue ferve, o cérebro acelera ultrapassando a barreira do som e o coração só acalma quando tudo acabar.
Joguemos então o jogo da vida, apetrechados de esperança e vontade.
Onde tudo o que se joga é a realidade, onde ninguém tem espaço para solidariedade e compaixão, cada um com sua vida, cada um com a sua opinião.

Apenas sei que um dia saberei quem és.
Enquanto isso...


Sejamos bem-vindos à selva de alcatrão.






segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Propósitos.


Não é preciso conhecer muito da vida até percebermos que ela é injusta. Como se não bastasse nascer para morrer, não sabemos também o porquê de cá estarmos, não sabemos o significado deste nosso passeio por cá e das duas, uma: ou uma pessoa morre sem saber ou então descobre a resposta e morre mesmo antes de o conseguir dizer a alguém. 
Mas, e se a vida não tiver sentido? É uma possibilidade. Podemos cá estar apenas porque sim, porque aconteceu, porque calhou... 
De certa maneira é libertador pensar assim, que estamos cá somente para não estar noutro lado qualquer ou até para não estar em lugar algum. Que viemos para cá porque sim, sem objectivos, sem propósitos. 
Tantas pessoas que se perdem porque sofrem. Tantas que não sabem o que fazer porque vieram para este mundo com o propósito de amar o próximo e são trocadas por alguém sem propósito, com falta de motivações e de justificações.

Ou então aquelas que vêm a este mundo com o intuito de ajudar o próximo e se vêm sozinhas quando são essas mesmas a precisar de ajuda.

O mundo não é justo, foi mal dividido. Muitos têm de tudo, outros nem uma coisa só. Uns não dão valor outros matavam só para poder ter. Inteligência mal aproveitada e burrice com berço de ouro.
O mundo não tem propósito e de nada adianta pensar que se veio ao mundo na tentativa de lhe dar um. Um só homem não consegue nada e o povo só se junta com aquilo que não vele a pena, mais uma vez, porque sim, porque acontece e porque, lá está, não há propósito.

É sempre bom viver com bens morais e algum tipo de bom senso, camaradagem e boa vontade, mas de nada vale perder uma vida lutando por sentidos. Quem sabe se, ao nos perdermos, não iremos nós encontrar o verdadeiro caminho.   

Sonhos de um Palhaço.


"Quantas vezes os lábios sorriem e fazem sorrir, mas o coração chora...
Engolimos nossas lágrimas e fazemos sorrir, porque este é o nosso dom:



                                                   Consolar, e não, ser consolados."







(Para ouvir a música, parem a musica do blog, no fim da página.)

Erros por defeito.

Estranho este vento que te fez cair de novo nesta terra, violento demais para ser percebido, suspeito demais para ser deixado de parte.
Nunca soube muito bem aquilo que te trazia até mim. Faltam-me as palavras certas para caracterizar tamanho acontecimento estúpido, sem sentido, imoral e nefasto que me leva a suster a respiração como se de um tabu se tratasse e tentar de novo sobreviver entre a espada e a parede.
Nunca soube realmente o que querias. Talvez nunca o quisesse realmente compreender. 
Talvez por agora chegue a tua presença para acalmar a minha alma, o acto de assiduidade permanente, compreensiva e carinhosa ao qual eu por defeito me habituei quando tudo começou, quando por defeito parecias perfeitamente certa e realmente transparente.
Estranhas estas conversas que temos agora. Revejo-me em tudo o que te aconteceu, igualando-me a cada frase tua como algo que eu já passei por ti nessa tua reviravolta do destino com a plena certeza que tu nem nisso pensas, com a certeza que não pensas em mim agora, com a dúvida se alguma vez chegas-te a pensar em mim pelo menos uma vez.
Pergunto-me se serei capaz de te enganar, dizer que não penso em ti.
Penso em te dizer mil e uma coisas às quais me faltam a coragem: Dizer que já te esqueci seria a primeira, seguida pela jura distorcida de que nunca cheguei realmente a ter o coração completamente ocupado pelo nosso amor. E por fim, talvez inventar uma traição num daqueles dias chuvosos em que eu não podia estar junto a ti.
Dizendo isso talvez conseguisse ficar mais tranquilo, talvez conseguisse que realmente me odiasses por algo que eu disse, que mesmo sendo mentira bastaria para dar tréguas a fantasmas, pensamentos de culpas embutidas em mim sem que eu necessariamente tivesse feito algo.
Isso te afastaria, acabando de vez com o hábito defeituoso da tua assiduidade permanente, compreensiva e carinhosa ao qual eu me grudei de tal maneira que até, com o passar do tempo, toda a razão se ocultasse e desaparecesse por sí.
Isso me bastaria para estar em paz comigo mesmo, porque mesmo sendo culpado na mesma por acções que eu nunca cheguei a fazer, tinha a certeza que tinha sido eu a inventa-las, e não tu.

A grande conversa.

Era tarde. Já estava cansado de andar um dia inteiro de um lado para o outro.
Com esta chuva toda, eu só procurava um sítio para me abrigar, talvez pudesse me sentar um pouco, enquanto esperava que o mau tempo passasse.
Enquanto descansava daquela correria para tentar fugir da chuva persistente, apareceu também um senhor, de idade já um pouco avançada, que por ali se abrigou também, dando início a uma grande conversa:

- Isto está mau rapaz. - Disse o homem sacudindo a roupa para se livrar da água. - Agora até a chuva rouba o pouco tempo livre que resta às pessoas...
- Isso é bem verdade! – Respondi eu, achando alguma graça naquilo que aquele senhor me tinha dito. - Agora as pessoas passam pela vida a correr e nem tempo têm para olhar umas para as outras.
- Sabes, agora eu já não tenho saúde para essas correrias todas, mas quando tinha a tua idade, rapaz, eu não parava num só sítio, tinha sempre companhia e coisas para fazer.
- Então teve sempre uma vida bastante intensa. – Disse eu, interrompendo o pobre homem.
- Intensa até de mais, jovem. Só uns anos mais tarde é que percebi o mal que toda aquela correria me tinha feito.
- Mas parar é morrer, e você nunca parou. – Respondi sorrindo, a tentar alegrar a conversa.
- Pois não, jovem. Mas a vida não é assim, nem tudo são corridas! – Afirmou ele com um brando sorriso. - Há coisas que precisam de ser sentidas, e isso impede que uma pessoa corra.

Naquele momento, tudo o que eu percebi foi apenas que o homem se tinha arrependido de algo no passado, mas não me deu muito tempo para pensar, virou-se para mim e com um ligeiro toque no cachecol que tinha vestido disse-me:

- Rapaz. Vou te dar um conselho que quero que o guardes bem contigo. Nunca vivas a tua vida como se não houvesse amanhã, pensa bem naquilo que queres fazer da tua vida e como o queres fazer. A melhor maneira de viver a vida é parar de vez em quando e olhar para nós próprios, saber o que fizemos, conseguir certezas do que queremos melhorar e do que queremos fazer de seguida.
Nunca faças algo precipitado sem pensar no dia de amanhã, porque o amanhã chega rápido e depois não há forma de voltar atrás.

Depois de me ter dito isto, viu que a chuva tinha parado. Despediu-se de mim com um aperto de mão e dando dois pobres passos, virou-se para trás e disse:

- Só espero que tenhas compreendido o que eu te disse, porque foi esta a lição que a vida me deu! E sabes, a única coisa que me chateia neste momento é o arrependimento de a ter descoberto tão tarde.
                                                                                          
- Fechando os olhos consigo viver a minha vida, 
imaginar a dos outros e inventar aquelas 
que ainda estão para vir. -

sábado, 26 de janeiro de 2013

A sós com a nostalgia. (introdução a mim mesmo)


Custa-me adormecer a horas decentes.
Ultimamente tenho acordado quando deveria adormecer e adormecer quando toda a gente está para acordar. Não sei bem porque o faço, não tenho motivo concreto. Deixo-me levar pelas horas, simplesmente.
Este rame-rame começa no preciso momento em que acordo. Todos os pensamentos que não tinha enquanto dormia, aparecem todos de forma pouco ordeira, desbastando assim a minha tranquilidade mental. Normalmente, quando isso acontece, viro-me para o outro lado da cama e deixo-me adormecer novamente. Passo dias inteiros a dormir para não ter de pensar, para não ter que sentir.
Dormir é fácil. Bastante fácil até...

Feliz ou infelizmente, chega a uma altura em que sou obrigado a acordar definitivamente. Sacana do meu corpo tende sempre a mostrar-me que ainda estou vivo, que tenho de me mexer.
Levanto-me, vou comer a primeira refeição do dia, quando supostamente já devia ter comido umas duas ou três e venho para o computador. Sim, ultimamente, esta é a minha vida.
Não é que eu goste ou que queira, de facto, viver para dormir. Não quero, mesmo! Apenas aconteceu.
Eu tinha vida antes disto. Eu namorava, eu trabalhava, eu vivia, mas nem tudo é como queremos, não é verdade?

O trabalho esse perdi-o. O patrão a modos que se arrependeu de ter contratado alguém para aprender o ofício e começou a fazer de tudo para que eu me despedisse. Custou aguentar e ficar, visto que lá estava à ano e meio e tinha os meus direitos, mas consegui. Vendo ele que não conseguia, despediu-me. Estou no desemprego agora, como tantos portugueses.
A namorada, digamos que não foi a melhor namorada do mundo. Enquanto eu trabalhava, dediquei tudo o que eu tinha, tudo que ganhava, todo o tempo que me restava a ela. Não que fosse obrigação, apenas gostava, mesmo. Acho que, a partir do momento em que uma pessoa gosta, não deve se arrepender das coisas que faz pela outra, mesmo que no fim venha a descobrir que não valha a pena.
Eu seguia esse pensamento sem pestanejar. Pouco poupei, quer em tempo, quer em descanso, quer mesmo em dinheiro e não é agora que me arrependo. Embora tudo tenha dado errado.

Costuma-se dizer que Deus dá nozes a quem não tem dentes e eu, estupidamente, acabei por fazer o mesmo. Dei demais a quem não devia.
Descobri que não era o único na vida dela. Descobri que para ela “namorados há muitos, amigos é que não”. Descobri que, enquanto eu queria algo sério, enquanto eu queria ter alguém do meu lado, ela queria viver a vida. Não a julgo por completo, ela é nova, tem todo o direito de o fazer. Mas, e eu? Como fico eu nesta história?
Bem, parece que acabei por não ficar nesta história. Acabei simplesmente de passar a ser parte da sua história.
Vejo-a todos os dias a falar com este e com aquele. Vejo-a todos os dias com mentirinhas, monstrinhos que ela cria para bem (ou mal) dela mesma, para que ninguém saiba o que ela realmente anda a fazer com a sua vida, e pior, com a vida dos outros.
Conheço-a como a palma da minha mão, depois de quase dois anos a desmascarar muitos desses monstros quase que consigo saber o que ela vai fazer, sendo para isso preciso ela dar apenas um passo.
Como devem imaginar, não foi fácil estar obrigado para ser despedido e levar ainda com um namoro falhado, embora nessa altura ainda lutasse para que desse certo.

Hoje em dia, tento esquecer.
Tento de alguma maneira seguir em frente. Procuro trabalho, vou às aulas de condução, espero pelo dinheiro do desemprego, que nunca mais chega, enfim. Vivo para contar os minutos e é por isso que durmo desta maneira.
Para já ainda não tenho nada. A minha conta bateu no fundo, ficou literalmente a zero; a carta de condução ainda não a tenho, embora as aulas estejam quase a acabar e tarda nada estarei a fazer exame de condução; o carro está em stand-by, esperando pelo dinheiro do desemprego que parece que vem de muletas, e o amor, bem... O amor acho que, esse sim, vai demorar a chegar de novo.

Felizmente para mim, tenho comigo a esperança que este mau tempo vai passar e que o sol vai voltar de novo. Tenho esperança de receber o dinheiro que tanto espero, estou optimista no que toca à minha carta e espero um dia encontrar alguém que me afugente estes fantasmas.
Amei mais do que devia, lutei até não poder mais, tive dias em que apeteceu gritar até rebentar as artérias e hoje em dia, se não fossem os poucos amigos que tenho, estaria tramado.
Por enquanto vivo para dormir, nesta nostalgia agridoce, bipolar e maquiavélica. Vivo a contar os minutos. Respiro.
Malditos sejam estes dois anos da minha vida que se pudesse escolher, de certeza que os tinha passado à frente.